quinta-feira, 7 de maio de 2009

O poder da divisão



Por Edmundo Floss
Todo ser humano deveria ter um filho. Uma criança parar dividir seu tempo, encontrar nela uma razão a mais para viver. Nem todo ser humano consegue completar sua vida sendo ranzinza, resmungão, adotando uma ave ou um animal doméstico para poder dividir-se. A adoção tem sido outra alternativa para aqueles que, por algum problema biológico, não conseguem se procriar.
O sentimento de ter um filho é dividir-se. Para a rotina diária é uma atenção a mais para a nova vida e atua no preenchimento do vazio que muitas vezes sentimos. Razão para continuar trabalhando, crescendo internamente e principalmente doando-se à um ser indefeso que, por alguns anos, precisará de uma atenção especial.
A divisão começa no casamento e continua com o nascimento dos filhos. Pai e mãe se tornam menos egoístas com a presença de um pequenino em casa. Isso estimula o altruísmo e nos faz relacionar melhor diante da sociedade. Filhos de pais separados buscam chamar atenção para si como carência por um afeto e quantas vezes não lhe é negado um tempo compartilhado no cinema ou até mesmo ante à tv assistindo a um filme ou jogando um game.
Só fui sentir isso cerca de quatro anos atrás quando concebi, junto com minha queria Marcielle, nossa tão amada Gabrielle. Toda noite passei a levantar duas, três vezes para ouvir seu suspiro, sentir seu hálito tão ingênuo e acomodá-la ao berço. Isso me fez mais jovem. Me fez mais esperançoso, mais animado. “Puxa, Edmundo, como você mudou”, disseram alguns colegas de trabalho no meu escritório em que presto assessoria para consultórios médicos e odontológicos.
Com isso, surge também a divisão das preocupações. “E o futuro?”, penso sempre antes de deitar-me. Preocupa-me sua educação, fico pensativo em como ela se desenvolverá na escola, sua adolescência ... “Besteira!”, disseram-me certa vez. Passei então a viver o presente, sendo que o tempo voa a passos largos e preocupando-me com o futuro estou esquecendo de ver crescer a minha pequena.
Gostaria de compartilhar essa minha felicidade, pois triste é ver que, em todo o país, cerca de 20% dos registros de nascimento feitos, a certidão de nascimento de uma criança recebe a denominação “pai desconhecido”, “pai ignorado” ou simplesmente a notificação é deixada em branco. Na existem dados oficiais sobre a falta de reconhecimento paterno. Estudo feito na Capital Federal mostrou que uma em cada cinco crianças registradas não tem o nome do pai no documento.
E os dados não mentem : segundo o IBGE, filhos fora do casamento eram 57,5% dos casos registrados entre 1984 e 1993 e, segundo o Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), filhos de mães solteiras ou de uniões não formalizadas eram 56,5% dos casos em 2006, apenas no estado de São Paulo.
Outro universo que cresce é o número de pais cada vez mais jovens. Aos 19 anos, quando termina a adolescência, segundo padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS), o jovem está em fase de conhecimento e sua curiosidade encontra-se aguçada. Em 2005, 594 mil adolescentes brasileiros tiveram sua juventude presenteada com o nascimento dos filhos.
Outro fenômeno sentido pelas mulheres na faixa dos 30 anos é que cada vez mais está difícil encontrar o seu par, ou seja, aquele homem que queira ser pai. O casamento por união, companhia, ainda está em alta. Nos consultórios ginecológicos a reclamação é a mesma : homens nesta faixa etária querem ainda viver a vida, não querem compromisso e tomam atitudes de adolescentes.
Mas, como disse anteriormente, o filho fortalece a união para quem já tem “a cabeça feita”. É um doar-se de forma induzida e um compartilhamento com o seu par de uma forma única, ou no mais prático dos ditados, “é tirar da sua boca para dar aos filhos”. E celebre a vida !

Edmundo Floss é consultor na área de atendimento (http://edmundofloss.blogspot.com)