terça-feira, 26 de agosto de 2008

Expressões inadequadas comumente usadas em odontologia


Cabe copiar, imprimir e utilizar no dia-a-dia a orientação do professor Luiz Soares Vianna, professor emérito da FOUFMG Expressões Inadequadas:
a) materiais dentários; departamento de materiais dentários; disciplina de materiais dentários; consultório dentário; clínica dentária; exame dentário.
b) doenças da boca; doenças dos dentes; doença periodontal; doença gengival.
c) cárie do esmalte; cárie da dentina; cárie do cemento; cárie superficial; cárie profunda; cárie proximal.
d) tratamento dos dentes; tratamento da polpa; tratamento periodontal; tratamento gengival; tratamento de canal ou endodôntico; tratamento ortodôntico; tratamento da maloclusão; tratamento da classe I; tratamento da classe II; tratamento da classe III; tratamento do lábio leporino; tratamento da fenda palatina; tratamento da língua bífida.
e) saúde da boca; saúde dos dentes; saúde física; saúde mental.

Justificativas:
A expressão: consultório dentário, não tem sentido e exame dentário é um procedimento restrito ao dente. O correto seria exame odontológico porque inclui a anamnese e os exames complementares.
b) O conceito de doença não permite o uso dessas expressões porque não existe doença local. Toda doença é geral e acomete a pessoa como um todo. A cárie dentária é uma doença geral como qualquer outra e se expressa sob a forma de lesão cariosa. A lesão cariosa é que pode atingir o esmalte, a dentina, o cemento e a polpa, como também incidir em qualquer face do dente de forma superficial ou profunda. Portanto, devemos dizer: lesão cariosa do esmalte, lesão cariosa da dentina, lesão cariosa proximal, lesão cariosa superficial, lesão cariosa profunda.
c) Essas expressões contrariam o conceito de doença. O segundo Princípio da Medicina Psicossomática informa: não existe doença local, toda doença é geral e acomete o indivíduo como um todo. Assim, qualquer parte do organismo pode estar lesada, mas não doente. Quem fica doente é a pessoa.
Trata-se do paciente, ou da doença, da lesão, da infecção, ou do tumor, etc., mas não de órgãos ou de partes do organismo. A doença cárie dentária se expressa sob a forma de lesão cariosa nos dentes. Seria, pois, correto dizer: tratamento da lesão cariosa superficial, da lesão pulpar, da lesão gengival, da lesão periodontal.
d) Os problemas ortodônticos não devem ser considerados como doença, mas sim, como anomalias e as anomalias não são tratadas, mas, corrigidas. Por que? Porque na doença não existe apenas “pathos” (sofrimento), mas também “ponos”, isto é, a luta do organismo para restabelecer a normalidade, e, isso não acontece nos problemas ortodônticos.
Segundo Hans Selye, o conceito de doença pressupõe um choque entre forças agressivas e nossas defesas.
Também o lábio leporino, a fenda palatina, a língua bífida não são doenças, são anomalias, por isso, devem receber uma correção e não tratamento.
e) Saúde é um estado da pessoa e não de órgãos ou de partes do organismo, por isso, não pode ser dicotomizada em saúde da boca, saúde dos dentes, saúde das gengivas, etc.
Observação: Tenho recebido a colaboração de colegas acrescentando outras expressões inadequadas como:
• A expressão cavidade bucal é usada erradamente quando se deseja determinar o local de uma alteração patológica. Sabemos através do dicionário Aurélio última edição, que essa expressão em anatomia patológica, significa local oco. Torna-se mesmo impossível imaginar um tumor num local oco. A denominação mucosa bucal ou mesmo boca segundo o saudoso Prof. Tommasi é a mais correta.
• Outra expressão errada que é muito utilizada é a de Patologia para significar doenças. Segundo Aurélio Patologia é um ramo da medicina que se ocupa da natureza e das modificações estruturais e/ou funcionais produzidas por doença no organismo. O correto é dizer alterações patológicas.